Grabriel KieselIntrodução
A cor é uma parte tão fundamental da nossa experiência cotidiana que embora esteja sempre presente, raramente é notada, mas quando tomamos um momento para refletir, logo começam a surgir padrões.
Por exemplo, em ambientes corporativos, você raramente encontrará um terno que não seja azul, preto, ou cinza; toda placa de trânsito é amarela e, por algum motivo, todos concordamos que uma manchete em letras vermelhas está falando de algo muito sério.
Estas mesmas regras não verbais governam as nossas roupas e dominá-las nos dá duas possibilidades interessantes: 1) instrumentalizá-las para construir nossa imagem pessoal de forma mais profunda; 2) quebrar todas elas logo em seguida (mas agora com consciência).
Com isso em mente, este artigo será uma cobertura extensa da teoria das cores que explicará não apenas quais cores te ajudam a gerar certos efeitos nas pessoas, mas também como você pode utilizá-las para comunicar a sua personalidade de maneira mais autêntica sem sacrificar a técnica.
A teoria
A psicologia das cores é o campo de estudo que investiga como o comportamento humano pode ser afetado pelas cores do nosso ambiente e incentivar certos tipos de comportamento de forma subconsciente.
Onipresente e invisível, este conhecimento é usado em uma vasta gama de ofícios criativos, desde o marketing, em especial no que se refere ao web design, até nas artes, como no cinema, ao ponto de ser possível prever o papel de diferentes na trama, personagens a partir das cores que aparecem quando estes estão em cena.
Um dos estudos de caso mais famoso da psicologia das cores é o logo da rede internacional de restaurantes, McDonald’s que instrumentaliza a capacidade da cor vermelha de estimular o apetite para causar a vontade de comer em quem passa na frente de um de seus estabelecimentos e do amarelo, tanto por sua associação a alegria e otimismo, quanto pelo fato de ser a cor mais visível ao olho humano durante o dia.
Entretanto, esta relação nem sempre é tão simples e direta. No sumário de seu livro sobre psicologia das cores, a pesquisadora alemã, Eva Heller menciona que o ser humano conhece muito mais conhecimentos do que cores, de forma que o mesmo verde que simboliza a vida pode acabar por representar também o veneno e a doença.
Isto, é claro, sem mencionar a vastidão de diferentes contextos culturais que afetam a nossa percepção. Na China, por exemplo, o vermelho é visto como a cor da boa sorte e da prosperidade, enquanto na Alemanha ela está associada ao azar e à catástrofe.
Utilizando um exemplo do filme Titanic, quando Rose é primeiro apresentada, ela está usando um batom vermelho que a identifica com ideias de romance e paixão em luz do romance do qual ela participará, assim como um vestido roxo que transmite a mensagem de mistério e a ideia de que ela está escondendo um segredo.
Uma cena depois, um carro vermelho aparece sendo içado e passando na frente do navio, indicando o destino trágico da embarcação, portanto a mesma cor que antes representava a paixão, foi usada para representar o sangue.
Estes mesmos princípios governam a moda, ditando qual será a paleta das novas tendências da estação, quais tonalidades são aceitáveis dentro do escritório e até mesmo o significado de certos rituais sociais, como o vestido branco de uma noiva, ou o véu preto de uma viúva.
Mais do que isso, estas cores também não existem isoladas umas das outras, pelo contrário, cada cor se comunica com outras de forma natural “chamando” ou contrastando outros tons em relações complexas que chamamos de “acordes cromáticos” como na imagem abaixo.
As Cores e Seus Significados
As ligações que nosso cérebro faz entre certas cores e certas emoções não é por acaso. Cada cor do espectro interage com uma área de nosso cérebro de forma única e está associada a certos estimulos da natureza. Confira alguns exemplos abaixo:
Azul: O azul está ligada ao nosso córtex pré-frontal, responsável pela tomada de decisões, assim como pelo pensamento abstrato e criativo. Simbolicamente, o azul é uma cor diversa, com 111 tons conhecidos, e tende a estar mais associado à autoridade conforme mais escuro e mais à criatividade e leveza conforme mais claro.
O azul é uma cor a se usar não apenas para se sentir confiante, mas quando queremos que outras pessoas sintam confiança em nós, quando queremos ser uma presença tranquilizadora no ambiente. Este é o motivo de policiais em muitos países usarem azul também.
Roxo: Próximo do Azul, o Roxo também está associado ao polo frontal responsável pela faculdade do planejamento de ações, movimento e pensamento abstrato. Psicologicamente, o roxo é utilizado para estimular uma sensação de mistério, fantasia, espiritualidade e ganância.
O roxo pode ser usado em praticamente qualquer situação para dar um toque de mistério sem perder a claridade do estilo.
Rosa: A área do cérebro mais sensível ao rosa é a Tegumentar Ventral, que está associada ao nosso sistema de recompensa e, portanto, à comida, ao sexo, sede e assim por diante. No campo psicológico, o rosa está associado a inocência, pureza, delicadeza e afeição. Você vai querer usar rosa quando quiser passar uma imagem de empatia e sensitividade, seja em uma palestra, ou encontro.
Vermelho: O Vermelho é o principal estimulante cromático da amígdala e do núcleo accumbens, ambas estruturas cerebrais ligadas ao prazer. O vermelho transmite a ideia de emoção, virilidade, impulso, atenção e dinamismo. Quando você quer se destacar e causar uma impressão forte, o vermelho será a melhor escolha para seu vestuário.
Laranja: Intimamente ligado ao sistema dopaminérgico, que gerencia seus estados de recompensa e a liberação de dopamina no seu cérebro, o laranja é a cor da diversão, socialização, do lúdico, harmonizando o que há de melhor no vermelho e no amarelo, mas com um caráter intrusivo e ousado. O laranja é a cor ideal para se usar na academia, uma vez que estimula o movimento e atividades físicas.
Amarelo: Estimulando a mesma região do cérebro que o laranja, o amarelo é mais comumente associado ao sol e às sensações de alegria, otimismo e jovialidade que estão associadas ao mesmo. O amarelo é a cor perfeita para festas e situações de divertimento, quando você quer incentivar a si e os outros a sorrir.
Verde: Também associado ao Córtex Pré-Frontal está o verde, que transmite frescor, harmonia, e equilíbrio, também sendo comumente usado para representar a vida, a fertilidade e a saúde. O verde é a cor perfeita a se usar quando você quer desarmar as pessoas e aliviar tensões, uma boa escolha para quando você espera algum tipo de conflito indesejado.
Marrom: Ligado ao sistema límbico, que governa estados e respostas emocionais, o marrom é a cor da terra, do permanente e, portanto da estabilidade e da reflexão profunda, mas também pode acabar simbolizando a melancolia. O marrom é uma boa cor de roupa para dias de folga, quando você quer desacelerar e pensar um pouco, roupas marrons tendem a ser uma boa escolha para caminhadas e dias solitários em casa.
Preto: O preto está estritamente ligado à Amigdala, estrutura que governa o comportamento sexual, agressividade, medo e memória emocional. Mais do que o roxo, o preto també sugere mistério por sua correlação natural à escuridão da noite, mas também pode ter a conotação de luxo, nobreza e superioridade. O preto é o padrão para uniformes e roupas de escritório por transmitir uma imagem de confiança e autoridade.
Branco: A cor da pureza, higiene, paz e também do vazio está associada ao cortex esquerdo, responsável pela lógica e comunicação.O branco também tem conotação espiritual estando associado ao bem à perfeição. Apesar do que se pode imaginar, há uma grande diversidade de brancos com 67 tons. Branco é a cor dos começos, uma boa escolha para um primeiro dia de trabalho ou primeiro encontro.
Coloração Pessoal
Entretanto, escolher quais cores usar não é tão simples quanto escolher uma emoção.
Enquanto a sua personalidade e intenções devem sempre ser um fator na hora de escolher uma roupa, é sempre importante lembrar que a moda é um jogo onde negociamos com aquilo que a natureza nos deu, portanto, enquanto alguns podem se safar com um terno laranja gritante e gravata borboleta, outros podem não ter a mesma sorte.
Tudo dependerá da sua coloração pessoal, ou colorimetria, uma técnica que analisa a temperatura, intensidade e profundidade da pele a fim de ajudar a determinar quais cores melhor complementam a sua fisionomia tanto em tom quanto em subtom.
Esta técnica foi desenvolvida nos anos 40 pela estilista e artista plástica, Suzanne Caygill, que divisou quatro paletas de cores que se encaixam na maioria dos perfis humanos e as nomeou conforme as estações do ano: primavera, verão, outono e inverno.
Entretanto, com um modelo limitado a quatro paletas, não era incomum que se encontrassem pessoas cujas características as colocavam fora das colorações propostas por Caygill, levando ao desenvolvimento de um sistema mais complexo e personalizado.
Para entender melhor como a coloração pessoal funciona atualmente, entrevistamos a especialista Anny Sanchez sobre como a paleta de uma pessoa é montada.
Sanchez explica que é feita uma análise, não apenas do tom de pele de seus clientes, mas também de sua intensidade, profundidade e temperatura, tudo isto a partir de uma série de fotos feitas com diferentes tecidos distribuídos ao longo de certos espectros como “escuro e claro”, “quente e frio”, ou “brilhante e opaco”, explorando diferentes cores e tons e levando também em conta o contraste.
Entretanto, uma vez montada a tabela de coloração pessoal de um cliente, Anny Sanchez avisa que ela deve funcionar como ferramenta para uma expressão mais autêntica de sua personalidade.
Ademais, ela também elucida como esta paleta pode ser aplicada, buscando a harmonia das cores do seu look através da paleta e do uso estratégico de acessórios, como uma gravata amarela que quebre a seriedade de um terno preto.
A Lei do Contraste
Existem muitos sites especializados em encontrar a coloração pessoal de seus usuários, mas tende a existir uma certa desconfiança (por muitas vezes merecida) quanto à autenticidade de seus resultados, ou até sua honestidade, motivo pelo qual a melhor solução para encontrar a sua coloração pessoal permanece sendo a ajuda de um profissional.
Entretanto, se isto ainda não é uma possibilidade, ou se você gostaria de testar esta técnica por conta própria, existe a técnica do contraste.
A técnica do contraste consiste em identificar a diferença tonal entre a cor dos seus olhos, cabelos e pele a fim de extrair disso a sua tonalidade. Para utilizar esta técnica, basta pegar qualquer foto sua e diminuir sua saturação até identificar onde as cores do seu corpo se encaixam na escala abaixo:
Identificando onde sua pele e cabelo se encaixam nesta tabela, você subtrai o menor do maior e o número resultante é o seu valor de contraste, sendo de 1 a 3 baixo, de 4 a sei médio e de 7 a 10 alto.
Em pessoas de alto contraste, roupas mais claras tendem a realçar sua feição, enquanto em pessoas de baixo contraste elas terão o efeito oposto e os tons de sua pele e roupas podem acabar ficando claros demais e a pessoa pode acabar parecendo uma cabeça flutuante.C
Conclusão
O conhecimento da psicologia das cores é uma ferramenta poderosa para quando se quer causar uma forte primeira impressão, tão poderosa que não há uma grande empresa, estilista, ou cineasta que não faça uso dela.
Mas é importante que esta ferramenta esteja sempre a serviço da sua criatividade, que a mensagem que você quer passar não fique escondida por trás de toda a gramática que explicamos neste artigo.
Por isso, recomendamos que seu estudo da psicologia das cores não acabe quando você decorar o significado de cada tom, ou cada acorde cromático, mas que tendo dominado o assunto, você se sinta livre para quebrar as regras com autoridade.
E para tanto, não poderíamos também deixar de recomendar os serviços de brokers como a Anny que estão a (X) anos ajudando clientes a instrumentalizar a psicologia das cores a fim de incorporar a melhor versão de si.
Fontes de pesquisa:
Sebrae, Maria Filó, Rock Content, Salão Virtual, Moda Para Homens, Scribd, Emerald.
